SURGE Vídeo: Entrevista Tony Hawk and Friends

Para quem o vê a andar num half-pipe aos 47 anos de idade faz um bocado confusão,: então este “jovem” quase com idade para ser avô ainda anda ali aos “piparotes”? Foi isto que ouvimos dizer na plateia do Tony Hawk and Friends Show no passado fim-de-semana. É verdade, anda, e não é pouco. Como é que ele consegue, passados todos estes anos estar a skatar daquela maneira, o que o motiva no skate, o que é que ele acha do estado do skate hoje em dia… eram todas essas e mais algumas perguntas que lhe queríamos fazer quando estivéssemos com ele… mas, à boa maneira portuguesa, às vezes as coisas simples complicam-se e estávamos a ver que não iria ser possível. Felizmente, o Tony chamou-nos para falar com ele e passámos alguns minutos à conversa com uma das lendas vivas do skate mundial.

Como achamos que tudo o que merece ser ouvido também deve estar escrito, tens aqui duas opções, o vídeo SURGE também com os manobras dos skaters convidados, Neil Hendrix, Lincon Ueda, Kevin Stabb, Elliot Sloan e Lizze Armanto e a entrevista na íntegra feita pela SURGE.

Tem sido uma “boa viagem”, quero dizer, a tua vida como skater, os primeiros anos, a “Bones Brigade”, a tua empresa Birdhouse Projects…

Sim, tem sido espetacular. Nem acredito que continuo a fazê-lo para viver.

Cresceste em San Diego, como foi a tua infância?

A minha vida era a normal para uma criança da minha idade. Eu joguei baseball e basketball. Comecei a andar de skate quando todos os meus amigos estavam a aprender. E quando fui ao skateparque pela primeira vez (Oasis skatepark) senti que havia mais do que aquilo que era visível para a generalidade das pessoas e para os meus amigos. Eu via-os (skaters) a voar e também queria fazê-lo.

Como foi a tua relação com os teus irmãos, pois eles eram muito mais velhos que tu?

Era boa. O meu irmão (Steve) foi quem me iniciou no skate e quem me levava para o skateparque uma vez por semana. Mas quando eu estava na Escola Preparatória eles já tinham acabado a Universidade, por isso, na realidade não vivi com eles.

Praticaste desportos de equipa? Quais, e o que te fez desistir?

Eu joguei principalmente Baseball e Baskettball e desisti porque queria evoluir no skate. Eu desisti na “Mini Liga” a meio do ano para andar de skate.

No livro”Hawk – Occupation skateboarder”, referiste que gostavas muito de tocar violino. Porque desististe?

Pelo mesmo motivo. Eu desisti pois estava a andar muito de skate. Eu costumava tocar em espetáculos na escola e em concertos. A minha professora queria que eu tocasse mais, mas eu disse-lhe que nos fins de semana andava sempre de skate e então ela disse-me que só devia fazer isso (andar de skate). Ambos pensávamos que não devia fazer as duas coisas.

Estás arrependido de ter desistido?

Sim, quem me dera ter continuado a tocar. Já tentei voltar a tocar, mas é muito difícil.

Começaste a andar de skate com o teu irmão Steve. Que memórias guardas desses primeiros tempos?

Eu recordo-me de ir com ele ao skateparque e sentir-me tão intimidado… pois o pessoal andava tão rápido e a “pool” parecia gigantesca. Recordo-me de estar “assustado”, mas muito excitado.

Em que ano foi isso?

Em 1978.

Nessa altura, os teus pais percebiam a tua determinação e amor pelo skate? Eles apoiavam-te?

Sim, eles apoiavam-me. Eles levavam-me ao skateparque. Houve tempos em que tive muitas lesões seguidas e eles nessa altura andavam muito preocupados pois eu tinha muitas contusões e nalgumas vezes dentes partidos e eles andavam muito preocupados. Mas não me conseguiam parar.

Porque eras hiperativo?

Sim, era imprudente.

No livro (“Hawk – Occupation: Skateboarder”) referiste que eras um miúdo muito determinado. Achas que ser determinado no skate e na vida em geral, é muito importante para conseguir algo?

Eu acho que sim. Eu acho que tentar dar o teu melhor sabendo que podes sempre melhorar…. acho que é o meu único segredo. E saber que posso sempre aprender, independentemente de se é competição ou não, eu quero sempre é melhorar… e se continuares a desafiares-te vais evoluir.

Melhores memórias acerca do Oasis Skatepark e Del Mar Skatepark?

As minhas melhores memórias do Oasis foram quando vieram todos os prós para um campeonato e tive a oportunidade de ver o Dave Andrecht, Eddie Elguera e o Duane Peters… e eu estava super excitado por ver todos os prós que via nas revistas. Del Mar era o local onde eu ia todos os dias, todo o dia, aprender inúmeras manobras.

Sentiste-te diferente quando foste patrocinado pela primeira vez?

Eu não me senti diferente. Não, senti que tinha mais pressão, que tinha “alguém” a observar-me e a querer que eu “atuasse”, mas isso motivou-me para melhorar.

E acerca dos campeonatos? Recordas-te do primeiro em que entraste, estavas nervoso?

Sim, estava nervoso. Na verdade foi no Oasis skateparque e acho que fui o 2º a contar dos últimos.

Ficaste um pouco depressivo?

Um pouco, mas eu sabia que tinha de melhorar.

E como foi o dia em que o Stacy Peralta te telefonou a convidar para integrares a equipa da “Bones Brigade”? Ficaste em choque?

Sim, foi um pouco, mas ao mesmo tempo eu também tinha tido uma oferta para integrar outra equipa. Eu sabia que esta equipa era de certeza a melhor. Eu também recebi uma oferta para andar para a G&S ao mesmo tempo,mas eu sabia que a Powell&Peralta tinha mais prestígio.

 E o teu pai devolveu a tábua e as rodas que a G & S te tinha enviado.

Sim, sim.

Deve ter sido um sonho tornado realidade receber uma chamada do Stacy para integrares a mesma equipa do Rodney Mullen, Steve Caballero, Ray Bones“ Rodriguez

Sim, foi uma coisa em grande, até pelo facto de ser um amador e não estar a andar muito bem em campeonatos, mas o Stacy viu potencial em mim.

Ganhaste o teu primeiro campeonato em 1982, no Del Mar Skate Ranch Falando da “Bones Brigade”, o que é que te vem à ideia quando recordas esses dias? Porque vocês todos foram – e são – uma referência do skate.

O que me vem à ideia? Viajarmos juntos e experienciarmos tantas coisas novas. Nós éramos tipo uma família estranha e aprendíamos à medida que as situações apareciam. Não tínhamos nenhum plano delineado nem sabíamos aonde íamos, mas estávamos excitados por nos ser permitido continuar a andar de skate.

Tens saudades desses tempos? Pois o skate era muito diferente nessa época.

Sim, eu tenho saudades da camaradagem “underground” que tínhamos, pois apesar de o skate ser popular, não era assim tão grande. Era maisuma espécie de linguagem secreta que tínhamos… e agora é tão grande e muito mais aceite pelo “mainstream”, mas agrada-me ter vivido essa era e agora estarmos aqui.

Continuas a ter contacto com os skaters com quem andavas nessa altura em Oasis e em Del Mar?

Não muito. Muitos deles deixaram de andar, mas muitos são locais de Del Mar como Kevin Staab, Dave Swift, Grant Brittain, eles gerem a “The Skateboard Mag”, o Owen Nieder, que é local e com quem eu ando muitas vezes e que faz Web design. O pessoal que é mesmo “hardcore” ainda anda.

No verão de 1990, tu, o Chris Miller, Joe Johnson e o Ray Underhill vieram a Portugal para dar uma demo. Tens algumas memórias acerca desses dias passados aqui?

Sim, eu recordo-me da multidão estar maluca.

Na altura foi uma coisa em grande.

Sim, eu sei. E muito divertido para nós. Foi brutal.

O vert está morto, Tony?

Não sei. Vejo esta rampa gigante numa tenda junto à praia. Não me parece. Se tu vires o nível de talento que existe lá fora de vert e de

rampas, e os miúdos que estão a aparecer, quero dizer, há miúdos que aparecem na minha rampa, que têm 12 anos e todos eles conseguem dar McTwists e grandes manobras… e eu nem sei o nome deles. Percebes? É o futuro já ali.

Para ti, quais as causas que originaram com que o vert baixasse a sua popularidade? Achas que é devido à exposição que o “Street skating” tem nos media de skate?

Eu acho que é simplesmente a acessibilidade. Não há assim muitas rampas disponíveis para que se possam usar… e pode-se ir para a rua e dar um corrimão na esquina, assim. Não acho que esteja de maneira alguma morto, mas é uma especialidade, é uma maneira diferente de andar de skate que não é tão popular, mas continua a ser contemporâneo.

Mas achas que é culpa dos media de skate por não mostrarem tanto vert quanto street?

Bem, como eu disse, o vert não é tão acessível, nem tão frequente. E porque o street vende mais que o vert.

Achas que o vert vai voltar a ser o que era nos anos 80 e 90?

Não poderia, pois o skate evoluiu. As manobras evoluíram, o equipamento, os estilos. Portanto, eu acho que continua a haver esse elemento e que definitivamente ele se encontra presente e as pessoas apreciam, e que continuam a gostar das manobras “old school”, como os “inverts” e bonelesses”, mas o vert evoluiu, como evoluiu o skate no geral. Kick flips vieram, os big spins, todas essas manobras estão no vert também.

Na tua opinião, o skate é um desporto ou um estilo de vida?

Ambas as coisas. E uma forma de arte.

Qual a tua opinião sobre as “Escolas de skate”, ensinar-se a andar de skate?

Bem, eu acho que se encaras o skate a sério e se queres desenvolver as tuas habilidades é uma boa maneira.

Mas tu vens duma época em que não havia escolas de skate.

Sim, mas também não havia muita gente a andar de skate. Penso que assim terão uma oportunidade de se concentrarem e de aprenderem.

O Kevin Thatcher, da Thrasher Magazine, disse em 1981, e passo a citar: “/The problem here is a/

/lack of understanding of what skateboarding is all about./ O que se passa aqui é um desconhecimento sobre o que é na

realidade o skate“. Não achas que hoje em dia há demasiadas marcas que não têm nada a ver com o skate e que estão presentes só pelo negócio?

É inevitável que assim seja – devido à popularidade que o skate atingiu – e que as empresas se envolvam. É assim que funciona. E para ser honesto, acho muito bem pois as pessoas dedicaram e arriscaram a sua saúde pelo skate, e agora estão finalmente a colher os frutos desse esforço, portanto acho espetacular que um skater como o Ryan Sheckler que tem andado durante tanto tempo esteja agora a viver muito bem disso.

E quanto à nova geração? Achas que hoje em dia – no geral – os skaters são mais mais competitivos e menos “for fun”do que eram há 20/25 anos?

Não acho que devamos generalizar as pessoas dessa maneira. Eu sinto que há pessoas que só querem competir e é nisso que se concentram e em que são boas, e há as pessoas que são skaters incríveis e que nunca competem. É muito eclético.

O que te levou a fundar a “Tony Hawk Foundation”? Qual o seu principal objetivo?

O objetivo principal é o de ajudar a construir skateparques públicos e a razão foi ter visto pessoas a construir skateparques em áreas mais influentes e de maior capacidade financeira, mas os skateparques são terríveis e não envolvem os skaters no design dos parques. Eu queria dar às comunidades os recursos para os fazerem como deve ser e para os fazerem aonde são mesmo necessários.

Sei que já construíram mais de 400 skateparques?

Neste momento estão construídos mais de 500.

E como está teu filho, o Riley? Está a ficar um grande skater.

Sim, ele está a andar muito bem. Neste momento está a trabalhar no novo vídeo da Transworld. Vi umas imagens brutais dele.

Costumas andar de skate com ele?

Sim, eu ando com ele de vez em quando. Principalmente se estamos a andar no mesmo skateparque ou no nosso quintal. Mas ele costuma estar na rua em “street missions”.

Mas é estranho?

A certa altura ele pergunta se eu consigo fazer alguma manobra e eu rio-me e digo-lhe que não há maneira de eu conseguir fazer essa manobra, e ele apercebe-se que temos dois estilos diferentes de andar.

O teu pai foi muito importante na tua evolução como skater e como pessoa. Queres dizer algumas palavras acerca dele?

Provavelmente não estaria aqui sem a sua ajuda ao levar-me aos campeonatos, quando muitos pais não queriam que os seus filhos andassem de skate.

E quanto ao futuro. O que esperas profissionalmente e pessoalmente?

Internacionalmente, vejo mais crescimento para o skate, com o aparecimento destas magníficas instalações no Afeganistão, Cambodja,

Uganda, Etiópia. Há sementes plantadas e vai haver um crescimento de certeza.

  

Tony, o que é que o skate representa para ti?

Criatividade e desafiares-te a ti próprio.

Últimas palavras, Tony.

Tão cedo não vou desistir!

 

entrevista : Gonçalo Lopes

Surge Vídeo: Imagem Pedro Dylon, Luis Cruz edição Luis Cruz

música: Orelha Negra